- Descrição
- Currículo
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1Aula 01 - O Eu Ideal e a Atividade Filosófico
Para todos os alunos deste curso é obrigatório fazer o exercício do Necrológio, primeiro momento de contato com a perspectiva própria ao filósofo, o qual sempre deve se guiar por uma imagem móvel de eu ideal. É essa imagem que o permitirá, diante de um Observador Onisciente, praticar a filosofia não como um papel social, uma profissão acadêmica, mas como um comprometimento de sua pessoa inteira, que não separa dever existencial de dever intelectual. Algumas orientações práticas – acerca de amizades, leituras e uso da língua – poderão auxiliar o aluno a melhor se preparar para a atividade filosófica, que sempre vai em busca da experiência real e jamais se contenta com a mera cultura filosófica. Daí o método da confissão como meio de o filósofo externar aquilo que testemunhou solitariamente, sem aval social.
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2Aula 02 - Adestramento Do Testemunho, Da Linguagem e a Experiência Direta
O estudante precisa formar um equipamento de experiências humanas e de registros lingüísticos e simbólicos, objetivo que poderá alcançar por meio do adestramento do testemunho, da linguagem e da expressão de sua experiência genuína. Uma vez que, no Brasil, a linguagem está deslocada em relação à experiência direta, é de suma importância ao indivíduo absorver os elementos essenciais da literatura e encontrar a sua própria voz, a fim de que possa exercer a atividade filosófica, isto é, a busca da verdade na realidade. A formação daquele equipamento é preliminar ao ingresso nas questões filosóficas. Seguem-se ainda várias instruções para auxiliar a realização do exercício do Necrológio.
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3Aula 03 - O Eu Ideal e a Importância Da Imaginação
Existe um hiato entre os conceitos morais universais e as situações concretas particulares e que só pode ser transposto mediante o emprego da imaginação. A prática filosófica consiste em saber fazer essas mediações entre pensamento e realidade, a fim de que não nos tornemos fundamentalistas no sentido voegeliniano do termo: alguém que “acredita em uma frase independentemente do que ela quer dizer”. Temos, ademais, de a todo momento inquirir a correspondência entre o eu ideal e a ação concreta particular, com a consciência de que situações opositivas podem intensificar a tensão entre um elemento e outro, assim nos fortalecendo. Lê-se e comenta-se um trecho de “Testemunho”, de Louis Lavelle, e recomenda-se um voto de abstinência em matéria de opinião.
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4Aula 04 - A Luta Pela Unidade Da Consciência
O indivíduo, quando confrontado com a opressão ou sedução da sociedade em que vive, poderá conceber como irreal ou inferior aquilo que constitui o cerne de sua autoconsciência. Contudo é preciso que ele lute contra os elementos antagônicos e alienantes que o cercam, a fim de solidificar a unidade do seu eu. Para tanto, terá de olhar tudo o que é transitório à luz do que é permanente e definitivo, o que se alcança mediante a contínua meditação da morte: sem essa meditação, tudo que diga respeito à cultura e à filosofia será futilidade. No mundo moderno os fatores alienantes difundem-se como nunca antes e acentua-se a fragmentação da consciência, como se pode perceber pela literatura dos últimos séculos. Se o indivíduo não pode alterar inteiramente essa situação, pode pelo menos impedir que ela o destrua, pelo menos fugir à paralaxe cognitiva. Também é discutida a importância do mapa da ignorância para que se alcance uma posição realista em relação a si mesmo e ao mundo.
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5Aula 05 - Necessidade Da Formação Literária
Há vários motivos que fazem da formação literária uma etapa prévia e necessária ao estudo de filosofia. Em primeiro lugar, é preciso compreender que o pensamento lógico e os conceitos abstratos do discurso filosófico se fundamentam sempre na imaginação e na memória de experiências reais, expressas sobretudo na literatura. Daí que o estudo de livros de filosofia deva passar necessariamente pela reconstituição dramático-imaginativa das experiências originárias dos conceitos. Em segundo lugar, a linguagem filosófica não é autônoma, mas depende da existência anterior de uma linguagem comum, que é a literária, a partir da qual depura seus termos técnicos. Apartada da linguagem literária, mais próxima à experiência, a filosofia acaba por fechar-se em sistemas de idéias alienados da realidade, em vez de manter-se aberta à sua presença. Além disso, da formação literária depende o desenvolvimento da sensibilidade estético-estilística do leitor. Adquirir cultura literária, portanto, impõe-se como obrigação a todos os alunos deste curso, a fim de garantir-lhes, por meio da educação do imaginário e da linguagem, certa abertura de consciência à presença da realidade e de suas estruturas: o assunto por excelência da filosofia.
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6Aula 06 - Conclusão Do Curso Introdução à Filosofia De Eric Voegelin
À parte de sua biografia, não é possível compreender o sentido da obra de Eric Voegelin. A contínua exploração de novos problemas teóricos o levou a deixar inacabadas quase todas as suas investigações, abandonando ou alterando uma série de projetos em andamento. Inicialmente preocupado com problemas de ciência política contemporânea, feito as ideologias totalitárias do século XX, Voegelin expandiu, de pouco em pouco, seu leque de interesses até abranger modelos de ordem política do Egito à Grécia antiga, de Israel à Cristandade, da Mesopotâmia à Europa moderna. A partir da publicação de A nova ciência da política, suas investigações centraram-se, mais do que em apenas documentar a evolução histórica de idéias políticas, em recuperar as experiências de ordem que motivaram a criação dessas idéias. Segundo Voegelin, por meio de progressivos “saltos para dentro do Ser”, a humanidade vai historicamente se aprofundando na compreensão do real e, assim, descobrindo novos modelos de ordem e também novas possibilidades de deformação existencial da ordem, como é o caso do gnosticismo. O método de Voegelin, no entanto, encontra seus limites ante a realidade dos milagres, da ordem islâmica e das sociedades secretas. É preciso tomar sua obra como um programa de estudos e encarregar-se da tarefa de aprimorar o trabalho por ele já iniciado.
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7Aula 07 - Mundo Virtual: Sua Ampliação e Linguagem
Se observarmos a nossa biografia, como expressa no Necrológio, veremos que a unidade de nossa vida só se dá virtualmente. Vivemos em um mundo de virtualidades que formam a nossa personalidade, sendo este o mundo no qual realmente existimos e experimentamos tensões e expectativas. A ampliação desse mundo se dá pelo domínio da linguagem em seu sentido mais amplo, servindo de auxílio na formação e aquisição de uma história, de uma memória e de um imaginário. A visão humana não pode se centrar na realidade física. O real consiste em uma rede de possibilidades enunciadas por sinais ou símbolos que se ampliam no decorrer do nosso amadurecimento. Exercícios e orientações serão dados para que os alunos possam ter, em um primeiro momento, o domínio do discurso poético e retórico e desenvolvam uma paixão pela ordenação da informação.
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8Aula 08 - Síntese Dos Componentes Do Método Filosófico
É hora de fazer uma síntese do trajeto percorrido até aqui, o que servirá de meio para elencar os cinco blocos de atenção que vão ocupar o estudante. Primeiro ele terá de se concentrar no adestramento do imaginário, sem o qual não consegue sequer compreender o próximo. Esse estudo poderá ou não ser alargado com a pesquisa da psicologia como disciplina em sentido estrito. O segundo bloco diz respeito ao adestramento da compreensão e uso da linguagem: por meio deste, ele se torna capaz de ter consciência dos dramas intelectuais que levaram um filósofo a escrever sua obra. O terceiro bloco compreende o ideal, a resposta à pergunta “Qual o meu objetivo?”, a qual serve de chamado ao fortalecimento da unidade do indivíduo. O quarto bloco, o da aquisição das ferramentas da pesquisa erudita, lhe fornecerá meios para que acompanhe a evolução de um problema e lide com sua documentação de maneira eficiente, a fim de que ao estado da questão possa acrescentar suas contribuições pessoais. Esses quatro blocos servem de base ao quinto, no qual reside o objetivo final deste curso: o cultivo da técnica filosófica, aquele que permite ao indivíduo alcançar, de modo consciente, o conhecimento por presença.
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9Aula 09 - A Ética e a Técnica Filosóficas
Em geral, são dois os propósitos de quem se arrisca aos estudos: ou contemplar todo o processo histórico desde o alto, ou agir sobre ele para direcioná-lo. Embora residualmente sejam inescapáveis, esses dois propósitos são insuficientes. Não podemos nos colocar acima da realidade e vê-la como o próprio Deus. E, por isso e em contraposição àqueles dois propósitos, Santo Agostinho fala do seu eu verdadeiro, histórico, existencial, o que nos serve de exemplo. Devemos ir em busca dessa faixa imediata de nossa vida, para, por meio do método da confissão, dizer a realidade, aceitando-a, em vez de fugir dela mediante subterfúgios como o milenarismo. Aí, a raiz de um dos princípios da ética filosófica: “Cave onde você está”. Só assim o indivíduo poderá cultivar a técnica filosófica, por meio da qual escapará de falsos problemas (a exemplo da oposição entre determinismo e livre-arbítrio).
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10Aula 10 - Inversão Revolucionária e Fuga Da Realidade
A mentalidade revolucionária caracteriza-se por uma série de inversões, como a inversão de sujeito e objeto e a inversão do tempo. Esta última pode ser observada no milenarismo. Aquela primeira, por sua vez, pode ser vista em um artigo de Vladimir Safatle, longamente comentado, o qual serve de sintoma da decadência da cultura brasileira e do tipo de inconsciência que se tornou rotineira no Brasil, entre outros motivos por não existir mais opinião pública letrada entre nós. No cruzamento de debilidade cultural e inconsciência filosófica, grassa a paralaxe cognitiva. São indicados alguns meios de se precaver contra esses males, a exemplo do exercício de leitura lenta de um livro filosófico.
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11Aula 11 - O Dever De Reeducar-se
A ordem da sociedade brasileira passou por um processo de decomposição. Não há mais postos, profissões ou cargos a serem ocupados por homens de cultura, por intelectuais, que em tempos melhores se encarregariam de orientar a nação. O pouco que restou são cátedras universitárias, assumidas por gente que pensa mais em agradar à opinião momentânea dos pares do que na verdade resultante de uma experiência consciente da realidade. Daí que seja dever do estudante sério reeducar-se inteiramente, passando em revista as etapas fundamentais de seu aprendizado anterior: i) a educação familiar, ii) a educação social, e iii) o adestramento escolar. Só assim será possível que os alunos do COF superem os vícios adquiridos da sociedade brasileira — covardia, carência afetiva, desprezo pelo conhecimento etc. — e imponham um novo modelo de conduta intelectual, abrindo espaço no Brasil para a presença de verdadeiros homens de cultura.
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12Aula 12 - Determinismo e Livre-Arbítrio: Um Exemplo De Aplicação Da Técnica Filosófica
Tanto “determinismo” quanto “livre-arbítrio” são conceitos-limite, figuras de linguagem que não podem ser utilizadas na descrição analítica da vida humana. O ser humano existe tensionalmente entre determinações do ambiente e liberdade de escolha, entre as influências do meio e sua reação livre a elas. O destino concreto do homem consiste, por isso, em educar-se para tomar consciência dos poderes que se exercem sobre ele, a fim de eleger alguns, como autoridades, em detrimento de outros. Pode-se, por exemplo, preferir a autoridade da escola ao poder da família, ou preferir a autoridade da ciência ao poder político, e assim por diante. O filósofo, no entanto, submete-se a uma só autoridade humana, à comunidade dos grandes sábios do passado: Platão, Aristóteles, Confúcio, Lao-Tsé, Shankaracharya etc. Para além dela, existem apenas a realidade e Deus. Daí que o processo educativo deva sempre ter como finalidade última abrir a consciência do discípulo à presença total da realidade.
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13Aula 13 - Revisão Dos Exercícios Do COF
Recomenda-se que todos os alunos leiam o texto de Mário Chainho, em que são resumidos o progresso das aulas e os exercícios do COF. Chainho escreve sobre o Necrológio, a imitação literária, a leitura lenta, a confissão e sobre todos os outros exercícios nos quais os alunos do COF devem se concentrar durante o primeiro ano de curso, como recomendado por Olavo, antes de passarem às leituras filosóficas propriamente ditas. Além desses exercícios, sugere-se ainda outro: o da “biblioteca imaginária”. Trata-se de listar a bibliografia daquilo que se pretende estudar até o final da vida e reajustar essa lista constantemente, de acordo com interesses existenciais e não apenas de acordo com a mera curiosidade. No simples processo de listagem bibliográfica o aluno perceberá que muitas informações essenciais sobre as suas áreas de interesse intelectual já serão reveladas.
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14Aula 14 - O que é a Verdade?
A verdade só pode ser conhecida existencialmente. Supor que ela seja um objeto concreto, apreensível por inteiro, resulta na falsa concepção de que a verdade não existe — pois ela, de fato, não é um objeto concreto, é uma experiência da realidade. O conhecimento da verdade depende fundamentalmente da sinceridade que o indivíduo humano tenha ante a sua própria existência, depende da confissão sincera de seus atos e intenções realizados. É na experiência moral de admitir, se não para Deus, ao menos para si, a realidade vivida que o homem chega a compreender algo da verdade. E, sem essa experiência, as verdades mais abstratas e filosóficas se tornam ininteligíveis. Boa parte dos pensadores modernos pecou justamente por alienar-se da existência real em nome de construções teóricas fictícias. Daí a forte presença da paralaxe cognitiva na Modernidade.
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15Aula 15 - O Experimento Do Baralho: Intuição e Razão
Um experimento com cartas de baralho realizado na Universidade de Iowa atesta que os seres humanos, antes de formularem racionalmente suas convicções, tomam decisões com base no conhecimento intuitivo que têm da realidade. A diferença entre intuição e razão é que, com aquela, o homem apreende a estrutura lógica do próprio real; com esta, ele recria essa estrutura dentro de sua mente. Daí que, em matéria de conhecimento, haja sempre superioridade do intuído sobre o raciocinado, porque a razão construtiva não é senão um reflexo subjetivo da objetividade do real, conhecida somente por intuição. A tarefa última da filosofia não consiste em recriar o mundo por meio da razão do filósofo, mas em apontar para uma realidade que transcende infinitamente a esfera do discurso científico e que deve ser conhecida em si e por si mesma. O filósofo é o homem, por excelência, aberto à verdade contida na presença da realidade.
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16Aula 16 - Condições Socioculturais Para o Exercício Da Atividade Intelectual No Brasil
Diante das condições socioculturais brasileiras, que atravancam o exercício da atividade intelectual, é necessário que o estudioso as avalie com precisão para que, assim, se torne capaz de reconhecer algum caminho intelectual possível, apesar das contrariedades. Por isso é urgente que tenha uma idéia clara do que é a alta cultura e de como a sua aquisição está vinculada à apropriação da linguagem (apropriação que, afinal, percorre todas as etapas do desenvolvimento humano). Essa visão supõe uma compreensão da linguagem não apenas em sua expressão verbal, mas em todo o domínio mais vasto de signos e significados. Quanto mais amplos forem os círculos de linguagem que o indivíduo conquistar, maior será seu acesso a outros círculos de experiência e convivência humana e a maiores e mais complexas possibilidades da ação.
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17Aula 17 - A Função Da Alta Cultura Como Elemento Estruturador Da Alta Sociedad
O ser humano tem certas possibilidades que o diferenciam maximamente do restante do reino animal, as quais não são perceptíveis desde o ponto de vista de qualquer ciência em particular. Em especial, sua capacidade de senso da realidade que, basicamente, consiste no senso de participação da consciência em uma realidade muito maior que a abrange. Esse senso é ampliado e intensificado pela aquisição da alta cultura, que não deve se restringir à absorção de determinados elementos, antes deve se estender à totalidade da conduta do indivíduo. O ápice da alta cultura está cristalizado na religião.
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18Aula 18 - Percepção Humana e Categorias De Pensamento
Tratar as categorias aristotélicas como conceitos filosóficos não significa fazer o mesmo trabalho do Estagirita. O filósofo, ao tratar das categorias e predicáveis, tinha por objetivo uma expressão conceitual de coisas observadas no próprio curso da percepção humana. Essas categorias não são meras técnicas de pensamento, não são coisas inventadas por Aristóteles. Na verdade, é até um erro afirmar que são categorias de pensamento, porque elas já estão embutidas na própria percepção ― é por meio delas que percebemos as coisas. Qualquer pessoa nota a diferença entre perceber uma coisa e perceber uma qualidade específica dessa coisa (seu tamanho, quantidade, posição etc.). A falha na utilização desses mecanismos de percepção pode levar a grandes problemas, que serão exemplificados.
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19Aula 19 - O que é Pensamento e o Que é Percepção
Existe uma diferença fundamental entre compreender os nossos próprios pensamentos e compreender alguma coisa na realidade que nos circunda. De modo lamentável, a maior parte das operações que fazemos durante o processo educacional — seja na escola primária, na secundária ou no curso universitário — refere-se exclusivamente ao mundo dos pensamentos, tem pouquíssima ligação com a realidade da experiência. Essa situação é problemática porque, logo que o indivíduo compreende um conjunto de pensamentos — que lhes são transmitidos pelo professor, ou que captou num livro, ou que ele mesmo pensou —, acha que compreendeu alguma coisa da realidade em si mesma. Mas compreender uma idéia não é o mesmo que compreender uma coisa. Por meio de dois exercícios, o aluno poderá fortalecer sua capacidade de distinguir meras idéias de efetivas realidades e de elevar aquilo que parece mero dado ao seu redor à condição de elemento dotado de uma história específica na realidade.
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20Aula 20 - Introdução à Leitura De Textos Filosóficos: Técnicas De Estudo
Antes de chegarmos ao ensino da filosofia em sentido estrito, precisamos meditar sobre a leitura de textos filosóficos e como absorvê-los. Seja como for, os problemas filosóficos propriamente ditos podem, por ora, servir de oportunidade ao emprego dos procedimentos necessários à leitura de um livro de filosofia. Devemos preencher de matéria existencial os conteúdos lidos no decorrer deste curso, o que se alcança por um trabalho imaginativo espontâneo realizado no próprio ato da leitura. Um texto de Joseph Maréchal servirá de base às reflexões.
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21Aula 21 - A Função Da Imaginação
A percepção do mundo real, composto por uma imensidão de dinamismos e potências, ultrapassa o plano da materialidade. Podemos ter muitos dados sobre a nossa vida em memória, mas estes, só por si, não compõem uma unidade nem nos proporcionam uma figura de nós mesmos. Esta figura – presença consciente do ser humano a si mesmo – se apresenta apenas à nossa imaginação, sem a qual não conseguimos contar a nossa história. A consciência de nossa verdadeira presença no mundo só advém com a tomada de posse dessa capacidade de percepção do mundo através da imaginação como coisa real e atuante que se desenrola no tempo e que completa a percepção sensível. A objetividade do mundo, a presença unitária do mundo, só pode ser percebida pela imaginação.
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22Aula 22 - Nova Ordem Mundial: a Simbiose Entre Elite Financeira e Cientistas
A situação atual do mundo é definida pela presença de um elemento que até séculos atrás era totalmente desconhecido. Esse elemento é a existência de uma elite internacional muito rica, muito poderosa e que resolveu, há bastante tempo, integrar suas atividades e trabalhar a favor de um plano unificado de governo mundial. A sua origem remonta aos séculos XII e XIII com o surgimento das associações entre bancos internacionais, que, por meio da pressão unificada sobre os governos, os endividou para controlá-los. Com o passar do tempo e o proporcional aumento de poder, intelectuais, cientistas e escritores foram chamados a integrar essa elite, em um processo de permanente debate e intercâmbio. Dessa simbiose com a classe científica emerge uma nova visão gnóstica da humanidade, que busca transcender a sua forma física de existência. Todo o aparato universitário no mundo está encaixado nessa Nova Ordem e é frente a ele que, com a devida força de caráter, vamos exercer a nossa vida intelectual.
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23Aula 23 - Consciência Da Presença Do Ser
É característica da história da civilização moderna a incapacidade de perceber a natureza como presença do Ser. A natureza é tratada como matéria a ser transformada e como símbolo dos sentimentos. O homem coloca o seu próprio ventre no centro da realidade, tornando a natureza inteira em um simples porta-voz das suas tristezas carnais. Suprimimos assim a presença do mundo material e a transformamos em cenário para as nossas paixões, o que representa uma grande inversão. O homem é visto não apenas como o centro, mas como o princípio da criação do universo, o criador, e Deus é descartado. Sem a consciência da presença do Ser, deixamos de apreciar nossa pequenez perante o universo e perdemos a noção intuitiva do que realmente somos. Como substitutivo, desenvolvemos uma preocupação excessiva com a construção de uma auto-imagem que refletirá tão-somente uma opinião e não uma identificação com o que somos realmente. Apreender a presença do Ser é perceber diretamente as coisas e as experiências percebidas por outras pessoas, de modo que, a cada nova percepção, novas dimensões do Ser sejam conhecidas.
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24Aula 24 - Conceitos Fundamentais Da Psicologia – Última Aula Do Curso Ministrado Em Colonial Heights
O conceito de psique é apresentado de formas tão diversas por diferentes autores que se poderia até pensar que falam de objetos diferentes. Por isso, torna-se necessário isolar o fenômeno de que falamos ao tratar de psique. A psique é, em primeiro lugar, uma força, e essa força, embora individual e intransferível, não se produz sem a presença de outros seres humanos que, à medida que são incorporados à memória, se tornam forças estruturantes dela. A psique, por isso, é marcada por historicidade, por uma sucessão de incorporações. Isso quer dizer que os outros seres humanos não são propriamente, ou não são apenas, elementos da circunstância externa, mas são elementos que nós absorvemos e sem os quais não conheceríamos todas as demais coisas. Daí que a psique humana seja inconcebível no isolamento e possua uma estrutura dialogal, e isso de tal maneira que o desaparecimento de todos os demais elementos humanos presentes na história pessoal anularia a psique. Para além dessa estrutura dialogal, a psique, não se reduzindo a uma construção cultural, revela-se um centro agente e uma força causal.
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25Aula 25 - Análise De Texto e Camadas De Significado
A análise – nos moldes de Martial Gueroult – só pode ser aplicada a alguns textos e exige do leitor uma ampla cultura literária, pois do contrário o texto analisado poderá ser coisificado. Ao nos atermos apenas ao texto em sua letra fria, em sua estrutura puramente lógica, poderemos não captar as suas nuances e as suas várias camadas de significado, sem as quais a compreensão integral do filósofo em estudo se reduzirá a uma mera interpretação textual. Entre os variados recursos de compreensão de um texto, destacam-se a imaginação e as evocações. O leitor atento, mediante uma atitude pessoal responsável, alcançará não apenas o sentido literal, como todo um ciclo de intenções subjacentes e referências culturais do mundo real presentes no texto.
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26Aula 26 - O Processo De Formação Da Psique
Um dos objetivos do COF é fornecer elementos (como os exercícios práticos) por meio dos quais os alunos recomponham a sua estrutura psicológica, em movimento que vai desde a superfície ao centro da psique. Mas atenção: é preciso não confundir esse centro profundo com o que se habituou a chamar, a partir de Schopenhauer e Freud, de "inconsciente". A rigor, todas as dimensões da psique são conscientes, incluindo a imaginação onírica. A diferença que há, por exemplo, entre os sonhos e o pensamento lógico não é a de uma atividade inconsciente para outra, consciente, mas a de um fluxo espontâneo e indiferenciado de imagens para uma estrutura organizada e bem delimitada de possibilidades conceituais. Não fosse assim, não fossem os sonhos, memórias e sensações também um aspecto consciente da psique, nem saberíamos que sonhamos, relembramos e sentimos. Se o sabemos é porque alguma consciência temos dessas atividades enquanto ocorrem. O próprio pensamento lógico não emerge senão do material imaginativo e sensitivo da psique, a partir do qual ele depura a estrutura conceitual de possibilidades com que analisa o cosmos e a posição humana dentro dele. Daí que o horizonte de consciência do homem seja fundamentalmente um produto de sua imaginação.
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27Aula 27 - A Unidade Do Real
As percepções que temos do mundo material são todas fragmentárias, múltiplas e inconexas. Nem mesmo os entes concretos podem ser apreendidos integralmente por nossas sensações, pois tudo quanto obtemos do contato direto com eles são impressões de variados aspectos seus, ora mais ora menos acidentais. Uma árvore jamais é vista em todos os seus aspectos, internos e externos, altos e baixos, simultaneamente. Nem por isso, na observação da estrutura delicada das folhas, deixamos de achar que, invisíveis debaixo da terra, existem raízes grossas e profundas. Parece, portanto, que a unidade da realidade, ainda que não percebida diretamente, mas só por aspectos, é um pressuposto de todas as nossas percepções. Daí que, ao longo da história da filosofia, tenham surgido diversas hipóteses para explicar o que é a unidade do real, se ela existe e de que maneira temos acesso a ela. Seria essa unidade supra-sensível (Parmênides)? Ou apenas uma idéia resultante do hábito de pensar o mundo assim (Hume)? Sequer existe alguma unidade real ou trata-se de projeção de estruturas do sujeito (Kant)?
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28Aula 28 - A Compreensão da Realidade Brasileira Como Autoconhecimento
Há, no Brasil, uma série de obstáculos à realização da vida do espírito. A observação desses elementos opositivos constituirá para o estudante uma prática sociológica, a qual já será também um meio de autoconhecimento. A comparação com um ideal formativo bastante recuado no tempo, o da cultura medieval imediatamente anterior à Renascença do século XII, pode nos ajudar a perceber algumas carências nossas (e na verdade não só nossas), como a perda de um ideal formativo integral, que se preocupava menos com criar obras do que com criar pessoas. A educação do corpo e algumas outras práticas – ao fim recomendadas – podem servir de correção a esses males.
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29Aula 29 - Como Desenvolver Uma Inteligência Autônoma
A alta cultura de um país é sempre composta por certa quantidade de indivíduos dotados de inteligência autônoma, isto é, por homens cuja "profissão" seja tanto compreender a verdade do real a despeito das pressões sociais do meio quanto influenciar esse meio por meio de suas idéias autênticas. O problema é que no Brasil há hostilidade tão grande ao desenvolvimento da autonomia intelectual que os maiores gênios do país tendem a ser ignorados e até mesmo desprezados pelo establishment cultural e, conseqüentemente, pelo restante da população: a exemplo de Gilberto Freyre e Mário Ferreira dos Santos. Um dos objetivos centrais do COF é justamente auxiliar os alunos a desenvolver uma inteligência autônoma por meio da universalidade do quadro de referências teóricas. É do aprender a julgar-se mais pelos olhos dos mestres de todos os tempos do que pelos pares contemporâneos que nasce a segurança intelectual das consciências autônomas. Daí que seja preciso, antes de mais nada, desfazer uma série de mitos históricos que dificultam nossa compreensão da sabedoria perene dos autores clássicos e medievais, por exemplo.
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30Aula 30 - Logica Brasiliensis
O ambiente mental brasileiro compõe-se atualmente de vícios e imprecisões de linguagem, lugares-comuns, mistura de diferentes níveis de predicação, confusão de palavras com coisas etc. O sistema pseudo-racional desses cacoetes mentais, resultante da instrumentalização gramsciana da cultura, pode ser chamado de logica brasiliensis. Para iniciar o processo de restauração da saúde da linguagem, é preciso estudar autores da geração que precedeu o gramscismo cultural no Brasil e, por meio deles, abrir-se à influência ainda mais ampla da cultura universal, a partir da qual se torne possível analisar criticamente a logica brasiliensis. Assim será possível recriar uma intelectualidade brasileira superior.
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31Aula 31 - Patamares Da Filosofia: Distinção Entre Forma e Matéria
A distinção que Aristóteles fazia entre forma e matéria é um dos patamares da filosofia. Patamares são coisas que, uma vez descobertas, ninguém tem o direito de ignorá-las, porque isso seria voltar a uma etapa mais baixa, mais grosseira do raciocínio. Seria deixar de perceber um aspecto da realidade que já foi suficientemente iluminado. Nesse sentido, é preciso incorporar a doutrina de forma e matéria não como algo que se passou no passado, algo que simplesmente foi descoberto e pertence à história da filosofia, mas como uma possibilidade humana atual, presente, que o aluno pode redescobrir todos os dias. A distinção de forma (princípio de funcionamento) e matéria (aquilo que confere o estofo da existência) é absolutamente essencial para a inteligência humana. Praticamente tudo que podemos descobrir a respeito do que quer que seja depende de que se tenha essa distinção muitíssimo aprimorada.
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32Aula 32 - Senso De Unidade Da Obra De Olavo De Carvalho
Materialmente, a obra de Olavo de Carvalho se constitui de um conjunto caótico de notas esparsas, transcrições de aulas, artigos de jornal e livros isolados. Em meio a tudo isso, em vários momentos o estudioso terá intuições que vão iluminá-lo sobre este ou aquele ponto de sua obra, porém sem atinar com o todo dela. Faz-se aqui, para remediar um pouco essa situação, uma espécie de condensação de sua obra. A simples lista temática do trabalho desenvolvido por si só já transcende o conjunto da cultura brasileira no presente momento.
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33Aula 33 - Conhecer à Luz Da Eternidade
Não é recomendado o estudo da filosofia por um método histórico – ou seja, por autores, como em geral se faz. A filosofia não é como a literatura, a poesia, em que cada autor tem um corpo de obras que precisa ser conhecido de forma total. Nenhuma obra filosófica tem a completude, a inteireza das obras literárias. A filosofia é uma permanente recolocação de si mesma como problema – não é uma investigação permanente –, então a possibilidade de uma expressão literária formal e acabada é muito remota. É importante saber que a finalidade da filosofia não é produzir obras escritas, o que seria literatura. A finalidade da filosofia é descobrir alguma coisa, saber alguma coisa, compreender alguma coisa. Mas onde está corporificada uma filosofia? Está no filósofo, não na obra escrita. A filosofia não estuda textos: estuda a realidade da experiência humana. E, como ninguém pode ter a pretensão de ter absorvido a realidade da experiência humana em sua totalidade, então sempre haverá questões em aberto. O que quer que se pense sobre as coisas se desfaz ainda mais velozmente do que as próprias coisas. O aluno verá, nesta aula, que conhecer é encarar as coisas à luz da eternidade. As coisas tais como elas são no Logos, no Cristo. Não há outra coisa que a inteligência humana possa fazer. Toda e qualquer outra operação na inteligência humana é subordinada a esta.
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34Aula 34 - Objetivos Deste Curso: O Incremento Da Autoconsciência e a Transfiguração Dos Seus Critérios De Existência
Sinopse
O problema da consciência foi a inspiração central deste curso. Nas condições da sociedade atual – especialmente a brasileira –, há uma série de fatores a impedir o desenvolvimento de uma consciência séria e responsável. Constantemente somos estimulados a olhar as coisas de uma maneira enviesada e nunca fazer um exame de consciência sério. Se as nossas confissões não englobam a totalidade de nossa vida, se não ajudam a integrar nossa consciência de modo que esta possa se apresentar perante Deus, então quem é exatamente essa pessoa posta diante de Deus? Na medida em que nos apresentamos ao Interlocutor Onisciente, Ele revela os pedaços faltantes de nossa experiência, aqueles de que ainda não tínhamos nos apercebido. Deus sabe mais sobre nós do que nós mesmos. Ele ilumina nossa consciência para que O entendamos melhor e assim possamos ser mais responsáveis por nossa vida. É por meio de nossos pecados que percebemos o caráter fragmentário de nossa consciência e personalidade. A palavra “eu” aponta para algo quase inexistente, porque esse “eu” que apresentamos, com todos os nossos pecados, não tem uma forma, uma organicidade, uma coerência, mas pedaços desconexos. Só Deus conhece a nossa forma inteira. Isso quer dizer que este curso e o aprendizado da filosofia, a prática da análise filosófica, só podem prosseguir na medida em que houver uma transfiguração dos critérios de existência, pouco importando qual a área de atuação em que possamos desempenhar nosso papel na sociedade.
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35Aula 35 - O Processo Da Guerra Cultural
Estamos em um cenário de guerra cultural em que certas idéias ou crenças podem se tornar dominantes (hegemonia cultural). Um exemplo disso é o uso da palavra revolução. Temos um mostruário enorme de usos do termo em títulos de livros publicados no Brasil: a revolução na tecnologia, na culinária, no vestuário feminino, na arquitetura etc.; há revolução em toda parte. Todos esses usos da palavra estão baseados em uma falsa analogia, porque em todos esses casos se trata de uma mudança ou novidade repentina e auspiciosa. Ora, as revoluções jamais são repentinas; revoluções políticas são processos enormemente complexos e levam muito tempo e, se podem parecer promissores por alguns momentos, depois que passam vemos que não foram o que prometeram, mas, ao contrário, uma onda de azar quase macabra. O uso corrente da palavra “revolução” é um exemplo de atuação do poder intelectual, que não apenas vulgarizou o uso do termo como automaticamente lhe juntou todo um imaginário e lhe associou reações de base quase inconscientes. Veremos como esse processo se deu com o advento da modernidade.
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36Aula 36 - Governo Mundial e Exercício De Classificação
Sinopse
O dado fundamental de nossa época, o centro da história mundial contemporânea, é o projeto da Nova Ordem Mundial. Trata-se de uma elite que atua em âmbito global há cerca de 50 anos com o objetivo de implantar um modelo completamente novo de civilização, por exemplo, por meio da reconfiguração de padrões comportamentais dos seres humanos. Por isso mesmo, é dever do intelectual escapar ao provincianismo temporal de nossa época, desaculturando-se, a fim de ampliar o horizonte de consciência para além da Nova Ordem Mundial que hoje nos é imposta e, assim, adquirir padrões de julgamento superiores.
Na linha dos exercícios que já vinham sendo propostos, desta vez caberá aos alunos a tarefa de escolher um cômodo de sua casa e classificar em gêneros e espécies todos os objetos ali presentes. A importância desse exercício se deve a que a base da inteligência humana não é senão sua capacidade de identificar e classificar com precisão a realidade da experiência — como fez Aristóteles no livro das Categorias. Desacompanhado disso, o homem pode até desenvolver raciocínios complexos, porém o fará sem nenhum lastro na realidade.
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37Aula 37 - Filosofia Da Iluminação
Junto de Eric Voegelin, René Guénon e Mário Ferreira dos Santos, o filósofo muçulmano Xaabe Aldim Suhrawardi (1154-1191) é considerado por Olavo um de seus “gurus”. Na obra-prima A filosofia da iluminação, Suhrawardi destaca que os filósofos antigos, como Platão e Aristóteles, devem ser compreendidos primariamente de maneira simbólica, para que, só posteriormente, suas teses sejam examinadas de maneira discursiva. As intuições desses filósofos penetraram tão fundo na estrutura da realidade que não podem ser refutadas como se fossem doutrinas quaisquer. Mesmo autores contemporâneos de primeira linha, como Xavier Zubiri, erraram ao não interpretar simbolicamente, por exemplo, a psicologia de Aristóteles, imaginando refutá-la, sem nem mesmo tê-la compreendido.
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38Aula 38 - A Metafísica Do Perdão
Se o universo físico está submetido à segunda lei da termodinâmica — de acordo com a qual há um declínio inevitável de energia em todo sistema fechado —, como podem os cientistas ao mesmo tempo afirmar que ele está em expansão? Ou a segunda lei da termodinâmica está errada ou o universo não é um sistema fechado, mas aberto a algo que o transcende e o sustenta no ser, compensando a perda entrópica de energia: Deus. Assim como, do ponto de vista religioso, o perdão (per donare) é a restituição da possibilidade de salvação, a despeito dos pecados cometidos, Deus estaria, de um ponto de vista cosmológico, permanentemente “perdoando” o universo físico ao garantir sua existência dentro da realidade, apesar do declínio energético. Daí a idéia do perdão como lei fundamental do universo.
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39Aula 39 - Revisão Do Primeiro Ano Do COF
Uma vida séria de estudos passa necessariamente pela educação da linguagem – coisa que no Brasil precisa ser com urgência restaurada — e pela formação do caráter. O estudante, nesse sentido, precisa enfrentar obstáculos não apenas de ordem intelectual, como também moral. E a inteligência, como dizia Goethe, se aprimora na solidão, enquanto o caráter, na agitação do mundo. Não há fenômeno mais ridículo que o do homem que passa os dias discutindo idéias de Kant e Hegel, sem saber administrar sua vida e se relacionar com os outros de forma madura. Não só isso, a falta de desenvolvimento moral freqüentemente se torna obstáculo à própria vida intelectual, como quando não se adquire força de personalidade suficiente para sustentar a autoridade da verdade percebida ante a pressão de grupos sociais. Na época do império da mentira, a única resistência possível é a solidão do intelectual em sua busca sincera da verdade.
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40Aula 40 - Karl Marx: Paralaxe Cognitiva ou Mentalidade Revolucionária?
A paralaxe cognitiva deve ser descrita como fenômeno típico do início da Modernidade, não porque tenha desaparecido depois, e sim porque nos séculos seguintes engendrou fenômenos intelectuais ainda mais decadentes, como a mendacidade deliberada de um Denis Diderot e a mentalidade revolucionária de um Karl Marx. Esta última, que pode ser verificada quase a cada página d'O capital, se caracteriza pela inversão 1) do sentido do tempo, 2) da relação sujeito-objeto e 3) da responsabilidade moral. No confronto com a realidade da experiência, torna-se claro que conceitos como “valor de uso”, “trabalho abstrato”, “fetichismo da mercadoria”, “alienação do trabalho” etc. não emergem de uma exegese do capitalismo real, mas da criação de um mundo às avessas, resultante da mentalidade revolucionária de Marx.